O milagre da vida - Hospital Vila da Serra

O milagre da vida

Data da publicação: 31/03/2014

Quando vemos uma criança nascendo, sendo amamentada ou apenas dormindo no colo dos pais, não imaginamos o quanto é difícil chegar a esses momentos. É verdade quando um casal mantém relação sexual no período fértil, apenas 18% vão conseguir uma gravidez. Além do mais, sabemos que cerca de 20% dessas gestações terminarão em abortamento, o que faz com que as crianças que nasçam sejam consideradas verdadeiras campeãs.

Esse “processo seletivo” inicia-se antes mesmo da concepção, isto é, da fertilização do óvulo pelo espermatozoide. Durante o ato sexual, não importando a posição, aproximadamente 2/3 do líquido seminal sairá pela vagina. Somente o restante do líquido contendo os espermatozoides móveis candidatos a fertilizar o óvulo liberado pelo ovário alcançarão a cavidade endometrial,parte interna do útero. Até aí tudo bem. Como temos milhões de espermatozoides, ainda que percamos muitos nesse processo, restariam muitos ainda. Só que os espermatozóides medem cerca de 5 micrômetros (aproximadamente 200 vezes menos que 1 milímetro) e têm que passar pela cavidade endometrial (que mede aproximadamente de 10 a 15 cm de comprimento) e trompas uterinas (também com cerca de 10 a 15 cm). Uma mega maratona que afortunadamente, a natureza dá uma ajudinha. O milagre da vida

Existe no líquido seminal uma substância chamada prostaglandina. Ela provoca contrações uterinas que, por sua vez, fazem com que surja uma pressão negativa dentro do útero, facilitando a passagem dos espermatozoides. Por estímulo do estrogênio, hormônio presente em altas concentrações em momentos antes da ovulação, pequenos cílios presentes dentro da trompa começam a realizar um movimento coordenado que impulsiona os espermatozoides e o líquido existente dentro dela em direção à sua porção mais próxima do ovário, onde, após a ovulação, repousará o óvulo. Outro detalhe importante é que o estrogênio também faz com que esse líquido da trompa tenha uma composição rica para os espermatozóides. Dessa forma, eles recebem não só um “empurrãozinho”, mas também são nutridos e “energizados”.

Ocorrida a ovulação, o óvulo é captado pela trompa e surge um novo estímulo hormonal, a progesterona. Ela atuará não somente no endométrio, camada interna do útero onde ocorrerá a fixação do embrião e o posterior desenvolvimento da gestação, mas também na trompa, alterando o movimento dos cílios em direção ao útero e fazendo com que o embrião formado seja conduzido à cavidade uterina. O líquido da trompa torna-se rico para o embrião, sendo responsável pela sua nutrição e fonte de energia, o que garante seu desenvolvimento. Esse percurso tardará cinco dias, tempo suficiente para que o embrião termine seu desenvolvimento até o estágio de blastocisto, fase na qual ele adquire a capacidade de se fixar ao endométrio.

“Não sabia que era assim”, “isto é lindo”. Essas são as frases que mais escuto no consultório quando explico o processo de fertilização do óvulo e implantação (ou fixação) do embrião ao endométrio. É verdade. É uma processo fantástico, apaixonante, que ainda não temos total conhecimento sobre ele.

Mas calma, ainda não acabou a aventura do nosso “pequeno campeão”. Estamos apenas no meio. Depois de formado, o embrião necessitará fixar-se ao endométrio, processo chamado de implantação embrionária. Para isso, uma “guerra” será travada. Em todas as partes do nosso corpo, existe um conjunto de células que nos defende de organismos agressores – chamado de sistema imunológico. Quando um embrião vai se fixar ao endométrio, é como se células estranhas ao corpo materno estivessem provocando uma invasão, sendo considerado um agressor em potencial. Assim, o sistema imunológico começa um processo de ataque às células embrionárias. Por sua vez, o embrião passa a se defender produzindo uma série de substâncias químicas que tentarão frear esta agressão. Se isso acontecer do modo correto, a gestação se iniciará.

Ao acompanhar tudo isso, acredito que fica mais fácil de entendermos a razão pela qual o tema mistura fé, ciência, religião (no sentido de crer que algo maior esteja acontecendo) e conhecimento. Eu acredito que na origem da vida, fé, oração, religião, ciência, conhecimento e lógica, sejam fatos que não devem se confrontar ou competir, mas caminhar juntos. Por isso, creio no “milagre da vida”, momento enigmático que tentamos decifrar e conhecer melhor, na tentativa de poder ajudar casais que anseiam ter filhos, mas que, por algum motivo, não conseguem.

Dr. Marco Melo,
diretor científico da Clínica Vilara