A Nova Emancipação Feminina
Historicamente, a pílula anticoncepcional abriu as portas para uma revolução sexual que possibilitou, entre outras conquistas, o ingresso da mulher no mercado de trabalho. Evolutivamente, o alcance de condições de igualdade civil e jurídica entre os sexos e a perda do medo da gravidez proporcionaram mudanças importantes nas relações das mulheres, tanto consigo mesmas quanto com o mundo que as circunscreve.
Infelizmente, esse avanço trouxe uma séria conseqüência: a luta contra o relógio biológico. O tempo permanece implacável para aquelas que buscam não só realização profissional, mas também engravidar e constituir uma família. Sabe-se que o número de óvulos que a mulher apresenta no início da sua vida reprodutiva é finito e que o passar do tempo representa uma redução tanto da quantidade como da qualidade ovocitária.
No início da última década, começaram a ser relatados os primeiros ensaios do que logo se tornou uma realidade: o desenvolvimento de uma técnica de criopreservação de óvulos segura e eficaz. Com o advento da “vitrificação dos óvulos”, procedimento em que eles são congelados de uma maneira ultra-rápida, observou-se a ausência de formação de cristais de gelo e, consequentemente, ausência de lesão da integridade dos mesmos. Ainda assim, a técnica vem sendo aperfeiçoada e hoje é possível encontrar uma taxa de sobrevivência superior a 90% após o processo de descongelamento e taxas de gravidez similares àquelas obtidas com óvulos frescos (não congelados).
Desse modo, comissões de preservação da fertilidade foram criadas para avaliar seu real benefício. Como resultado, a maioria dos pesquisadores nessa área diz que cabe ao especialista em Reprodução Assistida oferecer ou disponibilizar esse procedimento às suas pacientes, donas da decisão final. Mais do que uma estratégia para a preservação da fertilidade em pacientes portadoras de tumores malignos, os bons resultados apresentados recentemente sugerem que a criopreservação dos óvulos constitui a nova fase de emancipação feminina. A técnica permitirá que a mulher possa estar inserida na sociedade moderna competitiva, buscando a sua afirmação e sua realização profissional sem, entretanto, comprometer o seu futuro reprodutivo. Ela poderá “deter” seu relógio biológico ou, quem sabe, apenas ajustar os ponteiros para uma hora que julgar ser mais apropriada para a gestação.