Infectologista do Hospital Vila da Serra esclarece o que se sabe até agora sobre a varíola dos macacos
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a varíola dos macacos (Monkeypox – MPXV) uma emergência de saúde, com mais de 16 mil casos no mundo e mais de 800 notificações da doença no Brasil. Em Minas Gerais já são 44 registros confirmados, sendo a maioria de Belo Horizonte, segundo informações divulgadas pela Secretaria de Estado de Saúde (SES).
A varíola dos macacos é uma zoonose silvestre, mais comum nas regiões florestais da África Central e Ocidental, e raramente infecta os humanos. O vírus foi identificado pela primeira vez no final da década de 1950, e o primeiro caso em humanos foi relatado em 1970, conforme explica Dr. Cristiano Galvão de Melo, infectologista e coordenador da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Vila da Serra:
“No final da década de 1950, alguns macacos foram levados para a Dinamarca para estudos epidemiológicos quando houve um surto da doença entre eles. Foi então identificado o vírus e por essa razão recebeu a denominação de varíola dos macacos. Contudo, os macacos não são reservatórios exclusivos da doença, o vírus também está presente em roedores, como esquilos e ratos, e a contaminação em humanos iniciou-se pelo contato com esses animais mortos e pelo consumo dessas carnes”, elucida.
De acordo com o infectologista do Hospital Vila da Serra, o que se sabe até o momento sobre a origem do surto atual são hipóteses. “No passado foram relatadas ocorrências do vírus na África, nos Estados Unidos e na Europa, mas não dessa forma. Algumas suposições podem explicar o novo surto, entre elas, de que o vírus tenha sofrido uma mutação que o deixou mais agressivo na forma de transmissão. Além disso, pode ter havido uma invasão do ambiente silvestre, no contato do homem com os animais contaminados, e ainda o aumento das viagens internacionais são fatores que podem justificar o avanço do número de casos, mas por enquanto são apenas hipóteses”, enfatiza o médico.
Saiba mais:
Transmissão de pessoa para pessoa – A principal forma de transmissão é pelo contato físico íntimo, incluindo abraço, massagem e beijo e até mesmo conversas muito próximas com quem está infectado. Compartilhamento de objetos pessoais, como roupa de cama e toalha, também são formas de transmissão. Até o momento, 95% dos casos identificados foram pelo contato físico íntimo e sexual”, informa Dr. Cristiano Galvão de Melo.
Sintomas – “Os sintomas iniciais são inespecíficos: dor de cabeça, febre, linfonodos aumentados, dores no corpo, fraqueza. Geralmente, de três a quatro dias após o início desses sintomas surgem bolhas ou vesículas – lesões cutâneas – no rosto, nas mãos, nos braços, nas pernas e na região genital. As bolhas progridem para uma secreção purulenta e evoluem, em seguida, para um aspecto de crosta. Essas feridas são similares a outras doenças, como sífilis e varicela (catapora), por isso é imprescindível um diagnóstico diferencial”, descreve o infectologista.
Tratamento – “Não existe um medicamento específico para a varíola dos macacos. Portanto, o tratamento é suportivo, com prescrição de analgésicos e antitérmicos para aliviar os sintomas, e observação das lesões, porque há um risco de haver uma infecção secundária, ou seja, uma infecção bacteriana sobreposta. Na maioria dos casos é uma doença autolimitada na qual as lesões irão cicatrizar até desaparecerem totalmente”, esclarece Melo.
Existe vacina para a varíola dos macacos? “Foram desenvolvidas duas vacinas para a varíola humana, que trazem uma proteção para a varíola dos macacos porque os vírus são semelhantes. São vacinas eficazes que foram usadas para conter surtos anteriores, mas não há quantidade suficiente para uma imunização em massa. Os Estados Unidos e alguns países da Europa estão vacinando profissionais de saúde que possam ter contato com a doença e com populações de risco”, afirma Dr. Cristiano Galvão de Melo.
Como prevenir a varíola dos macacos? “Para prevenir o contágio, recomenda-se manter as mãos higienizadas com água e sabão ou álcool, usar máscaras, porque o vírus pode ser transmitido pelas gotículas, não compartilhar objetos de uso pessoal com quem apresenta as lesões ou tem o risco de estar infectado, e usar preservativo durante a relação sexual”, orienta.