Previna-se contra o Acidente Vascular Cerebral
O AVC – Acidente Vascular Cerebral é uma das principais causas de morte no Brasil e no mundo, e, por esse motivo, a população deve estar atenta para os fatores de risco, entre eles a hipertensão arterial, o tabagismo, o Diabetes Mellitus, a dislipidemia, a obesidade, entre outros.
A recente morte de dona Maria Letícia Lula da Silva, ex-primeira dama do Brasil, causada por um AVC hemorrágico, chama a atenção para a necessidade de conhecermos melhor a doença.
O AVC é segunda causa de morte no mundo com 5,7 milhões de casos por ano, caracterizando cerca de 10% de todos os óbitos mundiais. Destes, 85% são relacionados a países em desenvolvimento ou não desenvolvidos. No Brasil é a doença que mais mata. Em 2013, foram 68 mil mortes (108 casos por 100.000 habitantes) e 130.278 internações com a taxa de mortalidade de 15% para homens e 16% para mulheres segundo o DATASUS. Em 2011, as internações por AVC no Brasil custaram cerca de 200 milhões de reais.
Segundo a Organização Mundial de Saúde no ano de 2005, foram 5,7 milhões de mortes e 16 milhões de novos AVC’s. A estimativa é que este número chegue a 7,8 milhões de óbitos e 23 milhões de novos casos no mundo, em 2030.
De acordo com o neurocirurgião e neurorradiologista intervencionista Francisco de Lucca Júnior, coordenador do Serviço de AVC do Hospital Vila da Serra, “o cérebro de amanhã é reflexo de seu estilo de vida hoje e quanto mais rápido o paciente chegar ao hospital especializado maior é a chance de não ter sequelas neurológicas.
Ele é o coordenador do novo Centro Especializado Multidisciplinar para Atendimento do AVC que o Hospital Vila da Serra acaba de implantar, oferecendo todas as modalidades de tratamento nesta área, hoje, preconizadas pelas orientações da American Heart Association.
Nessa entrevista, o Dr. Francisco de Lucca Júnior, que é formado em Medicina pela USJF, Fellow em Neurocirurgia e Neurrorradiologia Intervencionista no Centro Hospitalar Universitário de Caen, na França, e Hospital de La Pitié Salpêtriére, em Paris, Mestrando pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, fala sobre fatores de risco para o AVC, sintomas e tratamento, entre outras questões.
Dr. Francisco, o que é o Acidente Vascular Cerebral – AVC?
O AVC, acidente vascular cerebral, é uma doença que ocorre dentro do crânio (cabeça) que tem como origem alterações nos vasos cerebrais. O AVC pode ser isquêmico ou hemorrágico. O AVC isquêmico é o mais comum, sendo caracterizado pela interrupção do fluxo do sangue dentro do vaso sanguíneo, levando a falta de oxigenação do neurônio e, consequentemente, à morte. O AVC hemorrágico, ao contrário do isquêmico, é uma ruptura de um vaso sanguíneo cerebral. Essa ruptura pode ocorrer com extravasamento de sangue em torno do cérebro (muito comum nas rupturas de aneurismas cerebrais), ou para dentro do tecido cerebral, formando hematomas ou coágulos (muito comum nas crises hipertensivas).
Quem tem mais AVC – homens ou mulheres? Por quê?
No AVC hemorrágico por ruptura de aneurisma cerebral, a incidência é de 3 mulheres para cada dois homens. No isquêmico existe ligeira predominância de homens.
Qual a faixa etária predominante de pacientes com AVC?
Segundo dados do Ministério da Saúde de 2014, a incidência aumenta progressivamente e significativamente após os 40 anos, com maiores índices após os 60.
Jovens também têm AVC?
Sim. Jovens entre 20 e 30 anos podem também sofrer um AVC. Porém, a incidência é bem menor que nos idosos. Os principais fatores de risco em jovens são principalmente: alterações dos fatores de coagulação por medicamentos em mulheres e trauma das artérias cervicais (dissecções) em homens.
Quais os principais fatores de risco?
Os principais são hipertensão arterial, tabagismo, diabetes mellitus, dislipidemia, obesidade, dieta rica em gorduras saturadas, consumo excessivo de álcool, sedentarismo, depressão e estresse psicológico.
Fale mais um pouco sobre o estresse como fator de risco para o AVC.
Vários estudos relacionam o AVC com os distúrbios psicológicos, aí incluídos, a ansiedade, o nervosismo, a frustração, o estresse e o mau humor, além da depressão. Estudo de 2015 publicado pela revista BMC Medicine revela forte influência da percepção do estresse nos pacientes na época em que ocorreu o AVC. Essa metanálise de 10.130 pacientes com AVC identifica um aumento de risco de 33% de AVC em pacientes com estresse. Porém, parece que as mulheres são mais susceptíveis ao desencadeamento por estresse, principalmente por estresse relacionado ao trabalho. Os estudos indicam que o estresse pode estar relacionado tanto ao AVC isquêmico quanto ao hemorrágico. Porém, a maior associação é com o AVC hemorrágico. Mecanismos possíveis para explicar o estresse como causa de AVC são o impacto do estresse causando inflamação dos vasos com formação de substâncias oxidativas ou disfunção imunológica.
Quais são os sintomas do AVC?
Os principais são perda de força ou paralisia de braços e pernas (habitualmente do mesmo lado), perda da fala, desvio da face (boca desviada para um lado), alteração súbita da visão ou vertigem associada com a perda de equilíbrio.
No caso de AVC hemorrágico por ruptura de aneurisma cerebral, o sintoma mais característico é a dor de cabeça súbita e intensa. Habitualmente, os pacientes relatam que parece que alguma coisa “estourou” na cabeça.
Quais as principais causas?
As principais são obstrução das artérias que levam sangue para o cérebro, arritmia cardíaca, hipertensão arterial, aneurisma cerebral, alteração da coagulação sanguínea e traumatismo das artérias do pescoço.
Quais os avanços no tratamento?
Há dois anos houve uma revolução no tratamento do AVC Isquêmico (aquele que é por falta de oxigenação do cérebro). Anteriormente, utilizava-se uma substância para dissolver o coágulo que entupiu (obstruiu) a artéria, muitas vezes sem sucesso, uma vez que necessitava de um espaço de tempo muito curto do início dos sintomas para o seu uso. Mas, desde 2015, ficou evidente a eficácia de um novo tratamento através de um cateter que retira o coágulo. Este cateter é introduzido pela virilha, chegando até o cérebro e retirando mecanicamente o coágulo. Com essa técnica, a taxa de desobstrução da artéria chega próximo a 90%, e já está disponibilizada no Hospital Vila da Serra, através do novo Centro de Tratamento do AVC.