Envelhecer apenas não basta
Vida saudável na terceira idade depende de cuidados especiais com as feridas
Em termos de expectativa de vida, o Brasil ainda está longe de países como o Japão e Canadá, onde a população alcança 82,6 e 80,9 anos respectivamente. Mas não há como negar o expressivo aumento da esperança de vida do brasileiro que, entre 1980 e 2013, teve um ganho médio de 12,1 anos. A esperança de vida que antes era de 62,5 anos é hoje de 74,6 anos, para ambos os sexos.
Se por um lado o aumento da expectativa de vida da população brasileira tem um aspecto positivo, por outro, ele é bastante preocupante, já que representa um crescimento considerável de complicações decorrentes de doenças que acometem justamente essa faixa etária, como a hipertensão arterial e o diabetes.
Tendo em vista essa realidade, a cirurgiã plástica Vívian Lemos, coordenadora da Comissão de Feridas do Hospital Vila da Serra e membro da equipe de Cirurgia Plástica da instituição, alerta que as feridas decorrentes de alterações vasculares e/ou nervosas, principalmente nos membros inferiores, merecem atenção especial. “Devido à dificuldade de cicatrização nos pacientes idosos, essas feridas tornam-se crônicas depois de algum tempo”, informa.
A médica explica que a complexidade dessas lesões, causadas por fatores intrínsecos e extrínsecos, faz com que a regeneração dos tecidos não evolua normalmente, até o aparecimento da pele íntegra. “Úlceras de pressão e de membros inferiores são exemplos de feridas crônicas que podem levar a uma reclusão maior e uma grande piora da qualidade de vida para essa faixa populacional”, enfatiza.
De acordo com ela, embora sejam escassas as estatísticas brasileiras sobre a incidência e a prevalência desse tipo de ferida, a literatura aponta para dados mundiais em torno de 14% a 22,8%. As causas mais comuns são a falta de controle da pressão arterial, o descontrole da glicemia, juntamente com um trauma, ou o aparecimento de insuficiência vascular, e o prolongado tempo de internação. Existe também um predomínio da ocorrência entre as mulheres acima dos 60 anos, ainda em atividade de trabalho, o que pode ser explicado pela maior expectativa de vida.
No Hospital Vila da Serra, o paciente que apresenta alguma ferida crônica é acompanhado desde o momento de sua internação, através de uma solicitação médica encaminhada à Comissão de Feridas. Esse setor é formado por cirurgiões plásticos e enfermeiros especializados que cuidam e observam diariamente a evolução do paciente.
As úlceras vasculares e de pressão são em maior número e requerem limpezas cirúrgicas frequentes além do uso de curativos especiais. Para cada tipo de ferida existe um largo espectro de opções capazes de trazer bons resultados.
As terapias adjuvantes, como a de pressão negativa e a oxigenioterapia hiperbárica, são importantes aliadas no controle de reinfecção das lesões quando as mesmas estão sendo preparadas para o tratamento definitivo. O resultado é a diminuição do tempo de internação dos pacientes crônicos. “Posteriormente, eles são acompanhados no ambulatório de cirurgia plástica do Vila da Serra para orientações sobre os curativos a serem realizados e sobre a prevenção de novas feridas”, explica a cirurgiã plástica.