Obstetras e ginecologista do Hospital Vila da Serra esclarecem a importância do parto humanizado
Um dos momentos mais esperados pela gestante, o parto acende um turbilhão de emoções e fica registrado na memória afetiva. Programado ou não, exige um acompanhamento técnico e acolhedor de uma equipe multidisciplinar, incluindo o médico obstetra, para que essa hora seja segura – para a mãe e o bebê – e especial. No entanto, o que poderia ser uma situação feliz e de protagonismo da mulher, pode se transformar em pesadelo se for cometido algum tipo de violência obstétrica.
Segundo uma pesquisa desenvolvida pela Fundação Perseu Abramo e pelo Sesc, cerca de uma em cada quatro mulheres no Brasil sofreu algum tipo de violência durante o parto, mas os números podem ser mais altos considerando que algumas vítimas não revelam o ocorrido por uma série de questões, como medo e sentimento de culpa.
A ginecologista, obstetra e vice-coordenadora da Maternidade do Hospital Vila da Serra, Dra. Beatriz Rocha, revela que violência obstétrica são atos cometidos contra a vontade materna. O obstetra e coordenador da Maternidade e do Serviço de Alto Risco do Hospital Vila da Serra, Dr. William Schneider Krettli, explica que, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), são consideradas violências obstétricas abusos verbais, restrição da presença de acompanhante, procedimentos médicos não consentidos, violação de privacidade, recusa em administrar analgésicos, violência física, entre outros.
“A declaração diz ainda que mulheres solteiras, adolescentes e de baixo poder aquisitivo, migrantes e de minorias étnicas são as mais propensas a sofrerem abusos, desrespeito e maus-tratos”, aponta o médico.
Por isso, os médicos do Hospital Vila da Serra frisam a importância de esclarecer o conceito sobre o parto humanizado. “Parto humanizado é aquele que acontece de maneira fisiológica, sem intervenções desnecessárias, baseado nas melhores evidências científicas, respeitando-se o papel de protagonismo da mulher nesse processo. Assim, médico e equipe de assistência deixam que o trabalho de parto e o parto transcorram da maneira mais natural possível, devendo intervir se houver qualquer problema durante a assistência. Logo, o nascimento por meio natural e também por cesariana podem e devem ser partos humanizados”, esclarece Dr. William Schneider Krettli.
“O parto humanizado envolve a paciente estar em um ambiente acolhedor, de segurança, com a presença de acompanhante na sala de parto, e uma equipe multidisciplinar atenta a oferecer a melhor assistência”, elucida Dra. Beatriz Rocha.
Um dos mitos difundidos é que o parto humanizado significa gerar o bebê em casa na companhia de uma doula. “Parto humanizado não significa parto domiciliar. Muito pelo contrário, a segurança durante o parto é primordial e só se dá dentro de um hospital. A presença da doula é para dar um aconchego, apoio e carinho à mãe. É muito importante contar com a atuação de outros profissionais, como enfermeiro, obstetra, pediatra e anestesista”, afirma Dra. Beatriz Rocha.
“As doulas ajudam no processo de assistência humanista ao parto. Para tal, médicos e toda a equipe devem estar alinhados no cuidado materno-infantil. Devemos nos lembrar de que a assistência humanizada também implica dar as condições para que as intervenções médicas necessárias sejam feitas, garantindo-se a segurança da mãe e do recém-nascido”, informa Dr. William Schneider Krettli.
Os benefícios do parto humanizado para o binômio materno-fetal são inúmeros, conforme explica Dra. Beatriz Rocha: “Ele estabelece forte vínculo entre a mãe e o bebê, além de incentivar a amamentação na primeira hora de vida. Para o bebê, é muito importante ter o primeiro contato pele a pele”. Dr. William Schneider Krettli acrescenta: “Para a gestante, a visão humanista da assistência ao parto contribui para uma experiência positiva. Sem intervenções desnecessárias, observam-se menos complicações e a recuperação da mulher após o parto tende a ser mais rápida. A evolução fisiológica do trabalho de parto e do parto diminui os riscos de complicações para o recém-nascido”, destaca.
O Sistema Único de Saúde (SUS) assegura o parto humanizado às gestantes, que inclui o direito a pelo menos seis consultas de pré-natal, além de uma vaga garantida em um hospital na hora do parto, com direito a acompanhante. “É plenamente possível ter um parto humanizado pelo SUS já que não requer grandes tecnologias e sim uma equipe sincronizada e atenta a dar este momento para a mãe”, declara Dra. Beatriz Rocha. “Existem várias maternidades públicas que têm a humanização da assistência ao parto como diretriz”, reforça Dr. William Schneider.